quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"Adeuses"

Dia de cristal cercado de vultos brancos:
pés descalços,
finas barbas,
longas vestimentas pregueadas.

Mulheres com olhos de deusas
transbordando um majestoso silêncio.

Luz em copos azuis.
Lábios em oração.
Mãos postas.

Dia de cristal,
claro, dourado,
e óleo.

Foi muito longe,
num palácio de inúmeras varandas,
com árvores cheias de flores pela colina.

O vento subia dos jardins para as salas
com a fluidez de um visitante jovial.
E com que leveza dançava,
abraçado às cortinas, às sedas,
aos véus, à luz!...

Sabíamos que os encontros jamais se repetem,
nem a emoção do alto amor.
Éramos todos de cristal e vento,
de cristal ao vento.

E andavam nuvens de saudade por cima dos jardins.
Tão grande, o mundo!
Tão curta, a vida!

Os países tão distantes!

E alma.
E adeuses.


Cecília Meireles, Poesia Completa

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