quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E eis que "a indesejada das gentes" chegou mesmo


Quando a indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

Manuel Bandeira, "Consoada"


Precisava de ajuda para falar da morte, da 'indesejada das gentes'. Pedi então a um dos meus poetas preferidos, que com ela conviveu a vida toda.
A indesejada das gentes é a única certeza que temos, e ainda assim parece que não faz parte da nossa vida. Vamos vivendo, que bom, é assim mesmo que tem que ser, só que de repente ela passa a nos mostrar sua face, passa a ser a aguardada das gentes, a anunciada. Começamos então a preparar a casa, colocar cada coisa em seu lugar para esperar sua chegada. Mas, aí está o engano do poeta, a gente percebe que nunca conseguimos terminar as tarefas, sempre faltará algo, mais uma data festiva juntos, mais um beijo, um abraço, uma conversa, um 'eu te amo'. Mal dá tempo para a despedida, e o adeus não é dito, somente o até logo. É assim que tem que ser, até logo, pois um dia haverá um reencontro, e o adeus não faria sentido mesmo.
Só que essa indesejada, ou a anunciada, dessa vez, sei lá se andava muito atarefada, passou para fazer uma visita em dose dupla. Primeiro foi uma pessoa querida, a quem aprendi a amar e respeitar como um segundo pai. E aí quase que no dia seguinte, levou meu amado pai também. Quase, deu um fôlego de pouco mais de um mês para talvez se mostrar um pouco piedosa. Mas não falhou, e veio buscá-lo também.
Tentar fazer uma homenagem a eles seria muito pouco comparado ao que eles merecem, nem me arrisco. E além de tudo que eles nos ensinaram, fica mais isso, o aprendizado de transformar a dor da perda em somente saudade.
Minha promessa comigo mesma sempre será de falar deles no presente, nunca no passado. Difícil colocar esse sentimento em palavras, nisso a sabedoria do dito popular é a que melhor cabe no momento: "Deus sabe o que faz e a gente não sabe o que diz".

O amor é eterno.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O conceito do "Eu" é uma ilusão



Algumas pessoas dizem que a prática budista visa dissolver o eu. Não compreendem que não existe um eu a ser dissolvido. Existe apenas a noção do eu a ser transcendida.



Thich Nhat Hanh, "Vivendo Buda, vivendo Cristo"
 
 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Classificando os desejos


Entre os desejos há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para felicidade, outros para o bem-estar corporal, outros ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as ações, para nos afastarmos da dor e do medo.
 
Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo, não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito.

Epicuro

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Amando todos os seres



A devoção real consiste em perceber a forma bendita de Deus em cada ser vivo e, em consequência servi-lo.

Amma

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Um ensinamento de vida para usar na hora da morte

Passei por muitas dificuldades, mas em consequência do meu treinamento e prática, nenhuma delas foi esmagadora. Conheço pessoalmente o poder das bênçãos do lama e como a contemplação e meditação podem ser benéficas quando lidamos com as circunstâncias da vida.
Quando era mais jovem, toda vez que recebia um ensinamento, eu revia o material vinte e cinco vezes naquele mesmo dia. Hoje, às vezes, esqueço os nomes dos meus familiares, mas nunca esquecerei os ensinamentos, por estarem tão firmemente impressos em minha mente. Não importa quantos anos de vida eu tenha pela frente, estou em paz com o fato de que vou morrer. A morte não me amedronta, pois tenho confiança em minha prática espiritual e tenho tentado ajudar os outros o quanto posso.
Sei, por experiência própria, que esses ensinamentos beneficiarão quem quer que os aplique, não apenas nesta vida, mas no momento da morte e em vidas futuras. Do fundo do coração, eu lhe digo: um momento de bondade para com um outro ser ou um ato com intenção pura valerão mais do que toda a riqueza do mundo na hora da morte.
Portanto, pratiquem agora, enquanto podem, da maneira mais ampla possível em cada situação. Isso realizará o propósito supremo de suas vidas e, na hora da morte, você não sentirá remorso.

Chagdud Rinpoche, trecho do livro "Para Abrir o Coração – Treinamento para a Paz"

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Bagagem de vida


Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

 Álvaro de Campos, trecho de "Passagem das Horas"