Para um amigo impecável. Para alguém que por quase 25 anos de convivência, de sua boca só ouvi palavras ora sensíveis, ora bem humoradas, sempre inteligentes. Para um ser humano sensível, alma boa, boa gente, jeitão carioca, cujo único "pecado" foi ter saído assim tão de sopetão das nossas vidas. Vamos sentir saudades, vamos continuar a nossa jornada, mas definitivamente ela continuará muito mais sem graça sem a sua presença...
A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
— Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (escreve!) muito sério.
"One art", Elisabeth Bishop, tradução Paulo Henriques Brito
dedicado a Manoel Carlos de Almeida Jr.
* 28/05/1953
+12/02/2012