Um dia, na padaria que usualmente frequento, vi no display de jornais e revistas uma foto que me chamou a atenção: era de uma mulher, com semblante de profundo sofrimento, tocando com uma das mão seu próprio rosto, com ar de incredulidade. Peguei o jornal para ler e ver a foto inteira. Na outra metade, estava no chão, a filha dessa mulher, morta, refém e vítima de terroristas em uma escola em Beslam, Rússia. A outra mão dessa mulher segurava essa menina.
Tive que me conter para não chorar ali no meio de outras pessoas. A menina tinha a idade aproximada da minha filha na época. Senti uma dor tão profunda, tão aguda, como se a dor de todas as mães do mundo que perderam seus filhos entrasse de uma vez em meu peito.
Sinto essa mesma dor hoje, ao saber do massacre na escola pública em Realengo, Rio. Muita, muita dor e indignação por tentar entender algo que não tem entendimento nem aceitação. Como é possível aceitar isso?
Existe tanta dor no mundo, tanto infortúnio, muitas vítimas, vários seres que se vão ou passam provações em catástrofes, tragédias diversas, doenças, enfim, parte do que chamamos o karma daquela pessoa. Mas violência? Qual é o aprendizado por trás disso? Como entender o porque dessas pessoas terem que passar por isso?
Dia 5 último fez um ano que tivemos nossa casa invadida por três assaltantes, e fomos feitos reféns por mais de uma hora sendo ameaçados de morte. E agora me diga: como aceitar que uma pessoa ponha um revólver na cabeça de minha filha e a ameace de morte para roubar bens materiais? Qual o valor da vida da minha filha para esse "ser"? Uma televisão? Dinheiro? Ou pra ele a vida não vale nada? Será que ele sabia do valor que a vida dela tem pra mim? Sabia do trauma que até hoje ronda nossas vidas?
Perdoar, já perdoei. Não porque sou uma pessoa boa, porque o perdão é um dos sentimentos mais egoístas no meu modo de ver. Você perdoa não pra ajudar somente a outra pessoa, mas para tirar aquele sentimento ruim de você. Mas aceitar, o que tem para aceitar? Todo santo dia me faço essa pergunta. Passou um ano e a resposta não apareceu.
Desculpa o desabafo. Mas não peço desculpas pela minha indignação!