Temos, minha mãe e eu uma conexão maior ao fato óbvio dos laços de sangue. Temos uma conexão espiritual muito forte.
Ela é budista praticante e estudiosa da filosofia. Estávamos outro dia conversando sobre um sonho que tive e sobre a "Terra Pura", a Terra de Buda. Ela falou: filha, a Terra Pura é aqui, é o lugar onde a gente está. Nós é que a criamos, aonde quer que a gente esteja ela está presente. Tudo depende de nós.
Fiquei imaginando vivenciar isso com todos os desafios e dificuldades do nosso cotidiano. A não dependência de fatores externos para gerar felicidade interior parece-me milhões de vezes mais fácil do que conseguir abstrair-se dos acontecimentos negativos e nos preservar da infelicidade ou até de sentimentos piores, como raiva, mágoa e outros tantos por aí.
Por acontecimentos externos negativos não estou me referindo à experiência de perda, dor ou outros que fazem parte da nossa experiência terrena evolutiva. Falo das pequeninas coisas que nos acontecem no dia a dia: disputas no ambiente de trabalho, aborrecimento às vezes com algo que alguém que você considera muito te falou e te magoou, a neurose das grandes cidades, o egoísmo que leva à falta de educação e gentileza, enfim, sentimentos oriundos de diversas situações e pessoas, conhecidas suas ou não e que te causam muito mal e te afastam da sensação de paz.
Fico me questionando, às vezes, por que uma pessoa que te falou alguma besteira no trânsito, por exemplo, a qual você nunca viu antes e fatalmente não voltará a ver de novo, deixa você num mal humor incrível. Muitas vezes até temos a clareza de perceber que você está sendo a válvula de escape dela e até chegamos a compreender isso e não entramos na loucura dela revidando uma atitude grosseira. No momento conseguimos ter uma atitude equilibrada. Mas depois, esse sentimento, quando você se dá conta, não está te deixando em paz. Fica te perturbando com aquela sensação ruim e quando você vê está dando vida e disperdiçando energia com isso.
Quando comecei a escrever esse texto estava em profundo questionamento sobre o porquê de tudo isso. Como anos e anos de práticas e estudos conseguiriam nos proteger disso? Mas eis que ocorreu-me um insight, nesse exato momento. A resposta está naquele "pequenino déspota" que habita nosso ser, o nosso EGO.
Às vezes perdoamos coisas muito maiores do que essas "picuínhas" todas. Porque perdoar coisas "imperdoáveis" é altruísmo, e assim alimentamos (também) nosso ego com a nossa "nobreza" de intenções. Agora, o cara na rua que te xingou, que foi grosseiro por nada e que você nunca viu antes mereceria ser perdoado? Ah, que perda de tempo! Pouquinha coisa para sua consciência e evolução espiritual se ocuparem, não é mesmo?
Não, não é. É exatamente aí que está o desafio, é aí que o trabalho deve ser feito, posto em prática. Pequenas atitudes geram grandes modificações. Em tudo.
Percebi que devo tratar o meu ego do jeitinho como ele tem me tratado a vida inteira e se quiser ver o mundo mais limpo, começarei a varrer "a minha calçada" todos os dias. Acho que assim estaremos todos vivendo de fato a Terra Pura de Buda.
Namaste _/|\_
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